Formatos de informações sobre os açúcares na rotulagem de alimentos industrializados: estudo multimétodos do contexto brasileiro

Abstract

O consumo excessivo de açúcares, especialmente aqueles adicionados em alimentos industrializados, é evidenciado globalmente e está relacionado ao agravamento de doenças crônicas não transmissíveis. Por isso, diretrizes da Organização Mundial da Saúde recomendam limitar o consumo desses açúcares. Para identificar os açúcares nos alimentos industrializados, o consumidor depende das informações disponíveis nos rótulos. Contudo, a legislação de rotulagem de alimentos em vigor no Brasil não prevê tal obrigatoriedade. O objetivo da tese foi avaliar as informações sobre os açúcares na rotulagem de alimentos industrializados e investigar formatos de rotulagem que sejam compreensíveis e auxiliem consumidores brasileiros nas suas escolhas alimentares. Foi realizado um estudo multimétodos dividido em três fases. A fase 1 envolveu adaptação, validação e aplicação de um método para estimar o conteúdo de açúcares de adição de alimentos industrializados considerando as informações disponíveis nos rótulos. O método adaptado foi aplicado em um banco de dados com informações de rótulos de 4.805 alimentos, dos quais 65% possuíam açúcares adicionados com valores médios apresentados por grupos de alimentos. Na fase 2 foi realizada revisão sistemática com metanálise de 23 estudos randomizados. Os formatos de declaração do conteúdo de açúcares em gramas na tabela de informação nutricional, aliado a algum formato interpretativo foram os mais eficazes no entendimento dos consumidores sobre açúcares e para estimular escolhas de alimentos com menos açúcares. A fase 3 contemplou a realização de um estudo de métodos mistos em duas etapas. Na primeira etapa ocorreu a realização de cinco grupos focais com uma amostra de 32 adultos jovens brasileiros que investigou a percepção sobre açúcares e sobre formatos de rotulagem de alimentos. Os participantes perceberam o atual formato de rotulagem de alimentos em vigor no Brasil como limitante para identificação dos açúcares e para auxílio nas escolhas alimentares, indicando quais mudanças poderiam ser realizadas para tornar o formato de rotulagem mais compreensível e útil. Na segunda etapa da fase 3 foi realizado um ensaio controlado randomizado online com 1.277 consumidores adultos brasileiros. Cinco formatos de rotulagem de alimentos sobre informações de açúcares foram testados. Foi evidenciada a necessidade de declaração do conteúdo de açúcares na tabela de informação nutricional para promover o entendimento dos consumidores sobre esses açúcares em alimentos industrializados. Contudo, não foi possível determinar qual formato seria mais adequado para estimular escolhas de alimentos com menor conteúdo de açúcares. Complementarmente, foi realizado estágio de doutorado sanduíche junto ao The George Institute for Global Health associado à University of New South Wales em Sidney, Austrália. Como conclusão, destaca-se a contribuição científica na adaptação de um método de estimativa de açúcares e a contribuição teórica e empírica na discussão dos modelos de rotulagens de açúcares no contexto brasileiro. Adicionalmente, recomenda-se o estabelecimento de ações que busquem reduzir o conteúdo de açúcares adicionados em alimentos industrializados, sem, contudo, estimular a substituição por componentes que possam ser prejudiciais à saúde, tais como os edulcorantes. Finalmente, ressalta-se a relevância de que a legislação de rotulagem de alimentos nacional considere obrigatória a declaração do conteúdo de açúcares nos rótulos para auxiliar os consumidores a entenderem melhor a composição dos alimentos industrializados e para estimular escolhas alimentares informadas e mais saudáveis.

Abstract: Excessive sugar intake, particularly those ones added to the processed foods, is globally evidenced and is related to the worsening of chronic non-communicable diseases. For this reason, the World Health Organization guidelines recommends limiting the intake of these sugars. To identify sugars in the processed foods, consumers rely on the information available on the food labels. However, the current food labeling legislation in force in Brazil does not make this information mandated. The objective of this PhD thesis was to evaluate sugar labelling of processed foods and to investigate sugar labeling formats that are understandable and assist Brazilian consumers in their food choices. A multi-method study was carried out divided into three phases. Phase 1 involved the adaptation, validation and application of a method for estimating added sugar content of processed foods considering the information available on the food labels. The adapted method was applied to a database with information from 4,805 foods, of which 65% had sugars added with mean added sugar content presented by food groups. In Phase 2, a systematic review and meta-analysis was carried out with 23 randomized studies. Sugar labelling formats which displayed the sugar content in grams in the nutritional information table combined with an interpretation were the most effective on influencing consumers? understanding about sugars and to encourage food choices with less sugar content. Phase 3 included a mixed-methods study conducted in two stages. In the first stage, five focus groups were conducted with a sample of 32 young Brazilian adults to investigate the perception of them regarding sugars and food labeling formats. Participants perceived the current food labeling format in force in Brazil as limited for the identification of sugars in packaged foods and for helping them during their food choices. Participants have indicated some changes that could be done to make the food labels more understandable and useful. In the second stage of Phase 3, an online randomized controlled experiment was carried out with 1,277 adult Brazilians. Five sugar labeling formats have been tested. It was demonstrated the need on declaring the sugar content in the nutritional information table in order to promote consumers? understanding of these sugars in processed foods. However, it was not possible to determine which sugar label format would be most suitable to stimulate food choices with less sugar content. In addition, a doctoral internship was carried out at The George Institute for Global Health associated with the University of New South Wales in Sydney, Australia. In conclusion, it is highlighted the scientific contribution in adapting a method for estimating added sugar of packaged foods and the theoretical and empirical contributions in the discussion of sugar labeling formats in the Brazilian context. Additionally, the establishment of actions that seek to reduce the content of added sugars in packaged foods, without stimulating the replacement by components that may be harmful to health, such as sweeteners is recommended. Finally, it is highlighted the relevance of a Brazilian food labeling legislation that considers the declaration of sugar content on food labels to help consumers better understand the composition of processed foods and to encourage informed and healthier food choices.