Ser mulher e cozinhar: experiências e sentimentos de mulheres de três gerações

Abstract

O gênero é um importante marcador social para o ato de cozinhar. Estudos de diferentes países demonstram que as mulheres continuam sendo as principais responsáveis por planejar e preparar as refeições no ambiente doméstico. Diante disso, o presente estudo objetiva conhecer as experiências e sentimentos de mulheres de três gerações sobre o ato de cozinhar. Como referencial metodológico optou-se pela Análise Temática (AT) para avaliar entrevistas realizadas com vinte e duas mulheres de três gerações diferentes. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina (CEP/UFSC - 1.723.746). Aproximadamente 40% (n=9) das participantes possuem ensino superior, cerca de 63% (n=14) são casadas, enquanto 54% (n=12) vivem apenas com o marido ou com este e os filhos. A maior parte das mulheres (59%, n=13) reside no estado de Santa Catarina, região sul do Brasil. A partir da AT das entrevistas identificou-se três grandes temas: minhas referências, papéis sociais e como eu cozinho. As falas das participantes demonstraram que as referências sobre o ato de cozinhar foram construídas desde a infância, efetivando-se a partir das relações constituídas e de como estas relações ofertaram elementos para a percepção interna do ato de cozinhar, conduzindo a referências positivas, neutras ou negativas. A percepção sobre ser mulher e cozinhar esteve presente nas três gerações, sendo expressiva na terceira geração (mais jovem). Também foi possível observar que esta geração traz falas relacionadas ao sentimento de inferioridade ao perceberem-se em uma sociedade que ainda possa considerar o ato de cozinhar como um papel social feminino. Inclusive com relatos de participantes que foram além dos seus conceitos e pré-julgamentos da visão social (e aparentemente daquilo que consideravam para si como referências) para que pudessem se permitir experienciar o ato de cozinhar por sua própria perspectiva. Constituídas as referências e observados os papéis sociais verifica-se uma maior ou menor abertura individual em vivenciar o ato de cozinhar, buscando ou não desenvolver suas habilidades ? tanto pela necessidade de se alimentar ou mesmo pelo prazer de realizar o ato de cozinhar e/ou comer, quer seja para si ou para outros. A forma como uma pessoa compreende sua própria vivência e sua interação com a sociedade são únicas. Assim, algo que possa parecer uma imposição para uns possa ser uma motivação e um desejo genuíno para o outro. Observou-se que as falas das participantes refletem uma avaliação pessoal sobre como as experiências de vida e sua própria individualidade contribuíram para o ato de cozinhar, perpassando o prazer, as percepções negativas ou neutras sobre o cozinhar, as dimensões deste cozinhar e o reconhecimento de sua identidade como cozinheira.

Abstract: Gender is an important social marker for cooking. Studies from different countries show that women are still primarily responsible for planning and preparing meals in the home environment. Therefore, this study aims to understand the experiences and feelings of women from three generations about cooking in the home environment. As a methodological framework, Thematic Analysis (TA) was chosen for evaluation with twenty-two women from three different generations. The research was approved by the Ethics Committee for Research with Human Beings at the Federal University of Santa Catarina (CEP / UFSC - 1,723,746). Approximately 40% (n = 9) of the women have higher education, around 63% (n = 14) are married, while 54% (n = 12) live only with their husband or with him and children. Most women (59%, n = 13) reside in the state of Santa Catarina, southern Brazil. From the TA, three major themes were identified, namely: my references, social roles and how I cook. The speeches of the participants showed that the references about cooking were built since childhood, starting from the established relationships and how these relationships offered elements for the internal perception of cooking, leading to positive, neutral or negative perceptions. The perception of being a woman and cooking was present in the three generations, being expressive in the third generation (younger). It was also possible to observe that this generation brings speeches related to the feeling of inferiority when they perceive themselves in a society that can still consider cooking as a female social role. Even with reports from participants who went beyond their social vision concepts and pre-judgments (and apparently what they considered themselves to be references) to allow themselves to experience the act of cooking from their own perspective. Constituting references and observing the social roles, there is a greater or lesser individual openness to experience the act of cooking, seeking or not to develop their skills - either because of the need to eat or even for the pleasure of performing cooking and/or eat, whether for yourself or for others. The way a person understands their own experience and their interaction with society is unique. So, to someone it can seem like an imposition or it can be a genuine motivation and desire for another. It was observed that the participants' statements reflect a personal assessment of how life experiences and their own individuality contributed to the act of cooking, permeating pleasure and neutral or negative perceptions about cooking, the dimensions of this cooking and the recognition of her identity as a cook.