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Esta dissertação tem como objetivo acompanhar, através do método da cartografia, a infância e as experiências educacionais de uma criança surda através de imagens produzidas e escolhidas por ela em uma escola de surdos, uma escola infantil comum e no contexto onde vive com sua família. Articulo o método da cartografia a noções do campo dos Estudos Culturais e dos Estudos Surdos para problematizar a infância e a produção de identidades e da diferença surda. A cartografia é um estudo das relações de forças que compõem um campo específico de experiências, não dependendo de um plano a executar, de um conjunto de competências a adquirir ou de uma lista de habilidades a aplicar em determinado campo pelo pesquisador. A cartografia tem a primazia do encontro, de fazer “falar aquilo que ainda não se encontrava na esfera do já sabido, acessar a experiência de cada um, fazer conexões, descobrir a leitura, a brincadeira, os elos e tudo que vive no cruzamento e nas franjas desses territórios existenciais.” (BARROS e KASTRUP, 2010, p.61). A cartografia é, portanto, uma prática que acompanha um processo. Durante o meu processo investigativo, busquei aproximações com os campos da filosofia e da infância para pensar sobre o pensar, para que possamos olhar de diferentes formas e lugares a infância e a surdez, para talvez reescrever o que já foi pensado e dito na e sobre a educação das crianças surdas. A partir da análise do material empírico, foi possível perceber que a criança surda, para ser criança, subverte a ordem do que é “melhor para a criança surda” a partir da necessidade de ir à escola, onde tem suas refeições garantidas, sua higiene, o cuidado e o educar, estes tão intrínsecos, específicos da educação infantil. Acredito que a educação da infância surda deve acontecer com pares surdos, em uma escola de surdos, mas para isso é preciso fazer alguns deslocamentos, como olhar para a infância, tanto quanto se olha para a surdez, e que a criança não participe dessa escola apenas para ter atendimento educacional especializado para aprender a língua de sinais durante algumas poucas horas na semana. Poderíamos pensá-la primando pela educação do fazer pensar e do conhecimento, onde se tem potência de ser criança e potência para viver a identidade surda, porque o que somos é resultado não somente do que fazemos, mas também do que nos passa e do que experimentamos. Estamos todos, o tempo todo, em processo, em obra na produção de outras formas de existência. |
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