A pedagogia da variação linguística na escola: uma proposta para combater o preconceito linguístico e aprimorar as competências comunicativas de alunos do 8º ano do ensino fundamental

Abstract

O evidente fracasso escolar na área de língua portuguesa, comprovado por exames nacionais e internacionais, tem levado educadores e linguistas a questionarem o processo de ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa. No que tange à escola pública, além dos problemas acarretados pela má gestão dos recursos financeiros e pela desigualdade social, pode-se apontar como fator responsável por esse insucesso a insistência em um modelo de ensino pautado em uma abordagem tradicional, que se baseia em uma concepção formalista da linguagem, tendo como foco o ensino da gramática normativa. Nesse contexto, as variedades de menor prestígio social são consideradas corrupções dessa norma, sendo negligenciadas ou excluídas do processo de ensino e aprendizagem, o que fomenta o preconceito linguístico. Para reverter esse quadro desolador, sugere-se que os professores de Português implementem uma Pedagogia da Variação Linguística (FARACO, 2008), partindo do pressuposto de que não existe erro nos usos que os falantes fazem de sua língua materna, sendo, portanto, necessário desconstruir modos equivocados de pensar a prática pedagógica com a linguagem. Tal movimento deve partir de uma reeducação sociolinguística que leve em conta as conquistas da ciência da linguagem e, também, as dinâmicas sociais e culturais em que a língua está envolvida, tendo como objetivos principais elevar a autoestima linguística dos estudantes, combatendo toda e qualquer forma de discriminação ou exclusão pela língua, por meio do reconhecimento da diversidade linguística, e garantir o acesso deles a outras formas de falar e escrever (BAGNO, 2017). Em consonância, com o que foi exposto, este estudo, originalmente, configurava-se como uma pesquisa-ação a ser desenvolvida em uma sala de oitavo ano do Ensino Fundamental, com vistas a conscientizar os alunos acerca do fenômeno da variação linguística e a desenvolver suas competências comunicativas. No entanto, em meados de 2020, devido à pandemia provocada pelo novo Covid-19 a escola foi fechada e os estudantes remanejados para o ensino remoto, inviabilizando a efetivação do projeto inicial. Desse modo, este estudo apresenta uma proposição pedagógica baseada em atividades que seguem uma abordagem reflexiva-crítica-investigativa como método de trabalho. Trata-se de pesquisa linguística (BAGNO, 2017), desenvolvida em seis etapas: 1) a escolha de um fenômeno identificado através de exercícios de escrita e que contemple as necessidades reais dos alunos; 2) a pesquisa sobre como as gramáticas normativas explicam o fenômeno escolhido; 3) a constituição de um corpus composto por demonstrações da língua falada e escrita; 4) a coleta das ocorrências do fenômeno escolhido no corpus selecionado; 5) a explicação do fenômeno estudado e a demonstração de seu uso adequado de acordo com a situação comunicativa 6) a reescrita e a socialização do texto. O trabalho, por fim, apresenta uma unidade didática em sete seções, cuja atividades envolvem leituras, debates, reflexões, produção escrita e reescrita no sentido de incluir na prática pedagógica o trabalho com a variação linguística e seu papel na compreensão e uso da língua.

The evident failure of Portuguese language teaching in the school system, shown by the results of national and international exams, has led educators and linguists to question the process of teaching and learning. Regarding public schools, in addition to the problems caused by poor management of financial resources and social inequality, the insistence on a teaching model based on a traditional approach is also to blame. Such model is based on a formal conception of language, focused on teaching normative grammar. In this context, language variations with less social prestige are considered corruptions of this norm, being neglected, or excluded from the teaching and learning processes, encouraging linguistic prejudice. To reverse this bleak picture, it is suggested that Portuguese language teachers implement a Pedagogy of Linguistic Variation, with the presumption that there are no errors in the use speakers make of their own mother tongue, and therefore, it is necessary to deconstruct flawed ways of thinking about pedagogical practice with language. Such movement must start from a sociolinguistic reeducation that considers the achievements of language sciences and the social and cultural dynamics in which language is involved, with the main objectives of raising students' linguistic self-esteem, removing any and all forms discrimination or exclusion by language, through the recognition of linguistic diversity, and guaranteeing their access to other ways of speaking and writing. In line with what has been exposed, this study, originally, was configured to be developed in an eighth-grade classroom of Elementary School, with the intention of making students aware of the phenomena of linguistic variation and to develop their communication skills. However, in mid-2020, due to the pandemic caused by the new coronavirus, schools were closed, and students transferred to remote education, making the initial project unfeasible. Thus, this study presents a pedagogical proposition based on activities that follow a reflexive, critical and investigative approach. It is a linguistic research developed in seven stages: 1) the choice of a phenomenon identified through writing exercises and that addresses the real needs of students; 2) research on how normative grammar explains the chosen phenomenon; 3) the constitution of a corpus composed of spoken and written language examples; 4) the collection of occurrences of the chosen phenomenon in the selected corpus; 5) the explanation of the phenomenon and the demonstration of its proper use according to the communicative situation 6) the rewriting and socialization of the text. Finally, the work presents a didactic unit in seven sections with activities that involve reading, debating, reflecting, written production and rewriting in order to its role in the understanding and use of the language. include in the pedagogical practice the notion of linguistic variation and its role in the understanding and use of the language.