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Esta dissertação tem como objetivo geral identificar que efeitos de sentidos são produzidos nos e pelos discursos da neutralidade que atravessam e constituem o campo da Tradução e Interpretação de Libras e Língua Portuguesa e, consequentemente, do sujeito que a realiza: o Tradutor e Intérprete de Libras e Língua Portuguesa - Tilsp. Para alcançar meu objetivo geral, estabeleci dois objetivos específicos: o primeiro incide em identificar que representações são construídas nos e através de documentos institucionais acerca do Tilsp, analisando, portanto, como os documentos institucionais tecem liames com o tecido social, numa engrenagem de (re)produção de discursos. O segundo consiste em estabelecer um diálogo entre os temas levantados no processo de construção das leis em relação à interpretação e à realidade do trabalho do Tilsp. À vista desse intento, filio-me à Linguística Aplicada do séc. XXI (MOITA LOPES, 2006; PENNYCOOK 1998; FABRÍCIO, 2006) por entender que fazer pesquisas na área da linguagem se configura numa relação indissociável com a vida, e não de forma desvencilhada do seio de funcionamento da língua, isto é, do sujeito. Quanto à metodologia, fiz uma análise documental, proveniente de leis e associações de Tilsp, com vistas a identificar como esses documentos constroem a figura do Tilsp, apresentando marcas sociais e orientando as relações entre esses profissionais e os outros do processo tradutório. Com vistas a atingir meu segundo objetivo específico, realizei entrevistas narrativas com Tilsp e alunos surdos, estabelecendo um diálogo entre os discursos advindos da análise dos documentos com a realidade do trabalho dos Tilsp. Como resultados, constatei que os excertos analisados prefiguram o Tilsp como um objeto de mero transporte de significados entre as línguas. Tais discursos têm construído esse profissional como uma não-pessoa. Além disso, percebi que os discursos da neutralidade são ideologicamente orientados e têm operado também no corpo dos Tilsp por meio de discursos que proíbem o uso de acessórios e roupas consideradas não-neutras durante o ato tradutório, invisibilizando e apagando os Tilsp. Identifiquei também que os discursos da neutralidade têm levado a práticas discursivas de silenciamento e subalternização dos Tilsp nos espaços de atuação desses profissionais, deslocando-os para as margens dos locais em que estão inseridos e impedindo-os de participar das aulas, por meio de comentários e opiniões, durante o exercício da profissão. Ancorando-me em Albres (2015), considerei que o Tilsp nos contextos educacionais assume o papel de educador e, portanto, participante do processo de ensino-aprendizagem. Ademais, aponto que a famigerada neutralidade tem se configurado, no campo da tradução, como forma de (re)produção das relações de dominação ao fazer uso de sinais da Libras que são formados por discursos colonialistas. Por fim, espero que este trabalho possa contribuir para a área da Tradução e para linha de Linguística Aplicada, tendo em vista que as reflexões apresentadas podem favorecer para a transformação das relações sociais existentes entre os profissionais Tilsp e o(s) outro(s) do processo interlocutivo. |
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