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O setor de produção de refeições caracteriza-se pela utilização intensiva de mão-de-obra, com grande dependência do trabalho dos operadores, constituindo-se esta uma particularidade e, em algumas situações, um dos principais problemas desse segmento. A preocupação com a saúde do trabalhador emerge no setor de alimentação coletiva, na medida da conscientização de que condições de trabalho e saúde estão diretamente relacionadas com desempenho e produtividade. A doença venosa crônica é um problema de saúde pública importante, podendo promover inaptidão para o trabalho, sendo responsável por absenteísmo e hospitalizações, tendo também uma repercussão indireta sobre a qualidade da produção e conseqüente perda de eficiência operacional. Embora ainda não haja evidência da relação direta causa-efeito de doença venosa com o trabalho, existe consenso científico de que o trabalho pode agravar o desenvolvimento da mesma. Dentre os principais fatores que estariam relacionados, destacam-se a postura parada em pé, o calor e umidade excessivos, o carregamento de peso, o sobrepeso e obesidade. O presente estudo avalia quais os fatores que podem influenciar o aparecimento ou agravamento de doenças venosas de membros inferiores em operadores de uma Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN). O referencial teórico abrange temas relacionados ao processo de produção de refeições, às doenças venosas e à ergonomia. Foi realizada uma pesquisa qualitativa, na forma de um estudo de caso em uma Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) hospitalar, localizada na cidade de Florianópolis, SC. A metodologia utilizada foi a Análise Ergonômica do Trabalho (AET) e suas etapas: análise da demanda, análise da tarefa, análise da atividade, diagnóstico e caderno de encargos e recomendações ergonômicas. Como técnicas para a coleta de dados foram utilizados: entrevistas com avaliação do Índice de Massa Corporal (IMC), exame clínico específico por especialistas da área de Angiologia e Cirurgia Vascular, volumetria por deslocamento de água no início e no final de uma jornada de trabalho, com o objetivo de observar as variações de volume dos membros inferiores. Foi feita, ainda, a observação direta e armada das atividades desenvolvidas no ambiente de trabalho, com registro de imagem, uso de pedômetro, cronômetro e termo-higrômetro digital. Os resultados indicam uma associação positiva entre as condições de trabalho na UAN investigada e o surgimento ou agravamento de doença venosa nos seus operadores. Foi observada a presença de algum grau de doença venosa em 79% dos casos, com uma variação média para volumetria de 5,13%, considerando-se 2,4% como padrão máximo de normalidade nesses casos. O sobrepeso e obesidade foram encontrados em 79% das pessoas analisadas. A temperatura ambiental média máxima observada foi 32º C, com uma umidade média máxima de 74% (recomendações, respectivamente, máximo de 26oC e 60%). A postura sentada, em média, ocorria por cerca de 10,4% do tempo total de trabalho e o carregamento de peso sem auxílio de carrinhos era observado com freqüência. Dentre as queixas relatadas, destaca-se a sensação de inchaço, dores e cãibras nos membros inferiores. Evidenciaram-se fatores de risco para desenvolvimento de doença venosa no ambiente investigado, tais como, a postura parada em pé por períodos prolongados, o calor e umidade elevados, o carregamento de peso inadequado e o sobrepeso dos operadores. Os resultados obtidos neste estudo ressaltam a importância e a possibilidade de aprofundamento do tema, o que poderia evoluir para o estabelecimento de um protocolo de prevenção e tratamento de doenças venosas em função do posto de trabalho executado. Seria o início de um processo de identificação deste distúrbio como uma doença de caráter ocupacional, o que contribuiria, portanto, para a reformulação conceitual dos encargos decorrentes dessa atividade profissional. |
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