dc.description.abstract |
O projeto civilizatório da modernidade encontra-se em crise. A modernidade
racionalizou as esferas política, económica e cultural, tornando-as autónomas e livre das
influências religiosas do Antigo Regime. No entanto, o desencantamento do mundo não se
reduz ao triunfo da razão, embora esta seja uma poderosa arma crítica contra todos os
totalitarismos e integrismos que submetem o homem a ordens diversas que não a sua vontade
livre. É certo que o mundo atual aceita a idéia de modernidade, mas esta não pode ser definida
apenas pela racionalização das diferentes esferas da vida social. A modernidade só se
completa em par com a noção de subjetivação. Vale assim, então, presentificar o potencial
emancipatório embutido na idéia de modernidade, trazendo à tona a valorização do sujeito. É
o sujeito que pode recuperar a promessa de emancipação da modernidade ao lado da
funcionalização da vida. Nestes termos, as lutas que se posicionam contra tudo o que tenta se
impor como algo natural - fome, miséria, desigualdades sociais - são instrumentos de
emancipação do indivíduo, transformando-o em ator social. Tem-se que, assim, realizar a
passagem do indivíduo em Sujeito (ator) inserido nas relações sociais, sem contudo, deixar-se
perder na identificação com o grupo, a coletividade. Por isso, a mudança nas ciências sociais
de classe social para movimento social, até porque os conflitos não se travam mais somente
entre capital e trabalho, tendo se expandido para todas as outras esferas de sociabilidade. A
subjetivação coloca-se em oposição à submissão, como resistência a opressão dos
determinismos que destroem a construção do sujeito livre. Não se pode perder de vista que
este projeto pode também fracassar, podendo se distorcer para individualismos narcisistas,
conformismo ou para um coletivismo totalizante. O sujeito não se constitui só pela razão, há
sempre a possibilidade de uma regressão a estados anteriores à constituição de sua civilidade,
e a psicanálise explica bem isso. Por isso, a necessidade de recuperar o sujeito em sua
totalidade, tendo em vista os novos papéis assumidos por este num panorama de
"radicalização da democracia" e 'universalização da cidadania", onde o ideal político
libertário da modernidade possa se realizar já no presente e não se prorrogue para um futuro
sempre por vir. |
pt_BR |